Segundo meu pai, quando a fazenda seria "desmanchada", os moradores da fazenda foram convidados a transladar os seus parentes falecidos para o então novo cemitério da cidade de Guatapará. Isso no final da década de 80. Ou seja, nesses mais de 110 anos, a Fazenda Guatapará teve muita gente, muitas famílias.
Como muita gente morreu neste lugar, várias pessoas de famílias que sequer sabiam que seus antepassados estivessem lá. Italianos, Austríacos e Alemães. Todos esquecidos.
Mas pensa errado que esse foi o único cemitério destruído pelo açúcar A ganância das usinas de açúcar possibilitou que a memória fosse esquecida. Inúmeras fazendas foram destruídas, seja para forçar o êxodo rural, seja para aumentar a área de cana plantada.
Tenho conhecidos que trabalharam para uma usina da região para destruir cemitérios, muitos deles cheios de registros dos Italianos que chegaram aqui nas fazendas de Ribeirão Preto. Um de meus primos se lembra do barulho do implemento do trator, à noite, destruindo as sepulturas. Tudo literalmente às escuras, para ninguém perceber.
Há um outro registro. No site do memorial do migrante há um mapa de uma fazenda, que hoje é usina de açucar. Esse mapa é de 1913. E nele se encontram registrados 2 cemitérios sendo um deles abaixo, num antes e depois:
Nesse mesmo mapa, há menção de um cemitério "velho". Imaginem algo que era considerado velho em 1913. Considerando que esse lugar era ponto de estabelecimento de Italianos, esses locais eram registros de nossa história.
O local ainda possuía uma estação de trem aberta em 1901 e outra, mas próxima a esse segundo cemitério, fundada em 1930 e demolida em 1990. A primeira foto é da mais antiga. Essas fotos das estações estão no site http://www.estacoesferroviarias.com.br, um maravilhoso repositório de informações sobre nossas antigas estações.
Tudo destruído pelo poderio açucareiro. Tudo destruído pela ganância e pela falta de respeito pelos donos do açúcar aqui em Ribeirão Preto.
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