domingo, 26 de maio de 2013

As matas na Guatapará e outras coisas curiosas

A interessante publicação "Filhos do Café" disponível no site da Prefeitura de |Ribeirão Preto tem fotos e dados impressionantes:

A primeira coisa diversa que achei mostra a então Fazenda Guatapará em 1889 (ano do casamento de Giovanni Polito, na época em que provavelmente meu bisavô Lino teria morado). Observem o cenário: As matas atrás da colonia de casas. Uma foto maravilhosa:


Uma foto que mostra o então fundador Martinho Prado cuidando pessoalmente da Fazenda:



Outra coisa curiosíssima é a descrição que Monteiro Lobato faz da cidade de Ribeirão em carta a um amigo em 1907. Fala das prostitutas europeias,  de sua diferença com as cidades paulistas e mineiras e também uma coisa bacana -  já se bebia por essas bandas Champagne:


Rangel,

Estou seriamente endividado para contigo, em cartas, livros, cumprimento de promessas, pedaços de queijo... Mas explica-se a má finança. O mês de dezembro passei-o todo fora daqui, em S. Paulo e no  Oeste. 

Corri as linhas da Paulista, Mogiana e Sorocabana, com paradas nas inconcebíveis cidades que da noite para o dia o Café criou - S. Carlos, um lugarejo de ontem, hoje com 40 mil almas; Ribeirão Preto, com 60 mil; Araraquara, Piracicaba a formosa e outras. Vim de lá maravilhado e todo semeado de coragem nova, pois em toda a região da Terra Roxa -um puro óxido de ferro - recebi nas ventas um bafo de seiva, com pronunciado sabor de riqueza latente. 

Em Ribeirão, a colheita do município foi o ano passado de 4 e meio milhões de arrobas -coisa fabulosa e nunca vista. Um fazendeiro, o Schmidt, colheu, só ele, 900.000 arrobas. Costumes, hábitos, idéias, tudo lá é diferente destas nossas cidades do velho S. Paulo e da tua Minas. Em Ribeirão dizem que há 800 “mulheres da vida”, todas“estrangeiras e caras”. Ninguém “ama” ali à nacional. O Moulin Rouge funciona há 12 anos e importa champanha e francesas diretamente. 

A terra-chão, porém, é uma calamidade -”enferruja”, isto é, avermelha todas as pessoas e coisas, desde a fachada das casas até o nariz dos prefeitos. Vai um pacotinho de amostra. Não pense que é tinta, não. Lá ninguém mora; apenas estaciona para ganhar dinheiro. Esse meu passeio de 3.453 quilômetros de via férrea buliu muito com as minhas idéias. 


[...] Eu mesmo gostaria de firmar-me por lá [...] Estou tentando ser nomeado para Ribeirão Preto... (Lobato, 1950 pp. 153-155)

Maravilhoso, não?

Mais sobre o Padrinho do nonno

Silvestre Molesin (ou Monesin). O padrinho do nonno permitiu mais uma interessante descoberta. Ele conseguiu viajar para a Italia novamente junto com 2 filhas, aparentemente a passeio. No memorial do Imigrante é seu registro de retorno ao Brasil:


Aparentemente viajara com duas filhas, Elvira e Ida. No rodapé, dados de residência em Cravinhos há 11 anos, e o Fazenda de Café que morava, pertencente à Alfredo Arantes.

Isso prova que os Italianos aqui visitavam seus parentes na Italia. Laços desfeitos com o tempo, infelizmente...

terça-feira, 21 de maio de 2013

A trágica epidemia de varíola em 1887 de São Simão


Janeiro de 1888. Ao tentar encontrar o óbito de meu trisavô Pietro Polo em São Simão (onde sei que a família também morou), encontrei um registro impressionante. Ao contrário dos registros comuns, a epidemia obrigou o vigário P. Angelo Jose Philidory Torres a registrar de forma resumida e específica a tragédia que se abateu sobre a então principal cidade da região, maior que a pequena Ribeirão Preto:

"Nota= No dia nove de Setembro ultimo, foi esta Villa accomettida pelas bexigas; a população retirou-se quase toda ficando somente na villa os desvalidos de meios para fugir, alguns negociantes levados mais pelo interresse do que pela philantropia, a colonia de estrangeiros que trabalhavão na nossa Matriz e o vigário da parochia e dois medicos que a bem da humanidade não recuaram diante de terrível morbo e combateram-no com tanta energia e intellygencia que em menos de tres meses puderam dar alta a todos os doentes do  Lazareto e  declarar extinta a doença variola. O numero de acometidos elevou-se a noventa e quatro e trinta e nove foram as vitimas. Si em fim de Dezembro findo pudemos organizar uma lista exacta, quanto é possível em semelhantes casas das que sucumbiram a fatal doença e foram enterrados em um cemitério ad hoc, a qual vai transcripto n´este livro de obitos par servir em caso de necessidade"

A tabela na impressionante e histórica imagem abaixo:





segunda-feira, 20 de maio de 2013

O antiquíssimo sobrenome Veneziano Polo

Polo tem diversos significados se pesquisarmos em  páginas diversas na Internet. Parece vir de Paulus, e que teria origem na Dalmácia (região Católica Romana da atual Croácia). Trata-se especificamente de uma região que abrange territórios da CroáciaBósnia e Herzegovina (Neum) e Montenegro (Bocas de Cattaro), na costa leste do Mar Adriático, estendendo-se entre a ilha de Pag a noroeste e a Baía de Kotor a sudeste.

Sem dúvida tem origem no trecho oriental do Vêneto, parte mais oriental da Itália. Supor que podemos ser da mesma linhagem do navegador Veneziano Marco Polo é sem dúvida instigador, mas encontrar documentos com cerca de 1000 anos com o sobrenome da Família da minha mãe é simplesmente fantástico:



Esse documento é um trecho de arquivo de um índice de documentos medievais,  da Biblioteca Marciana, no  Cathaloghi Storici Digitalizzati da Biblioteca Digitale Italiana - "Cataloghi di codici italiani. Catalogo manoscritto. Indice alfabetico", disponível em http://cataloghistorici.bdi.sbn.it/indice_cataloghi.php?OB=Biblioteche_Denominazione&OM=

Fantástico, não?


A outra irmã do Nonno - Stella

Graças a ajuda on-line (de novo) de 2 bons pesquisadores (Leandro Carmona e Marcelo Nomellini), encontrei o que acredito ser a outra meia irmã, por parte de pai, do meu bisavô Lino. Stella, nascida em 1870 em Santo Stino di Livenza, casou-se aqui na Região de Ribeirão com Pietro Giroldo em 04/04/1888:



Outra coisa que reforça a suspeita que ela seja mesmo a irmã mais velha, é o nascimento de uma filha em 22/06/1894 na cidade de Sertãozinho, Rosa:


Esses dois registros tem informações muito interessantes:

  • O marido dela, Pietro Giroldo, era Vêneto também.
  • Ela morou em Sertãozinho, mesma cidade em que sua outra irmã, Domenica teria morado
  • Ela colocou na filha o mesmo nome de sua falecida mãe na Italia, Rosa
  • Confirma-se que o meu trisavô já era falecido bem antes de 1894 (o registro de casamento não tem essa informação)
  • O nome do meu trisavô já era grafado como Pedro Paulo, igual a homenagem do seu filho Lino ao seu caçula, meu avô Pedro Paulo.
Mas agora surgiram mais perguntas que respostas. Como nunca falou-se nessas duas irmãs, aparentemente tão próximas? Porque o meu irmão por parte de mãe Giovanni Polito era tão mais bem próximo que suas meias irmãs por parte de pai? Que fazenda de Sertãozinho teriam vivido?

terça-feira, 7 de maio de 2013

Quem diria - O Domenico se transformou em Domenica....

Sem maiores preconceitos, a frase acima tem um contexto bem diferente nos dias atuais se comparados ao tempos do longínquo 1893. Mas graças à mais uma grande ajuda do pesquisador Leandro Carmona, encontramos o que acredito ser o "irmão" perdido do nonno Lino.

Eu sempre achei estranho ele não estar na relação do Archivio di Stato Veneziano, mas agora tudo faz sentido. Esses arquivos só relacionavam os meninos, e era muito esquisito o menino registrado no desembarque como Domenico não ter sua saída registrada na Italia.

Encontrou-se um registro de casamento em 27/05/1893 registrado na Matriz de Ribeirão Preto onde casavam-se Domingas Paulo e Eugenio Michelan. 

Assim como aconteceu com o desembarque de minha bisavó Giulia, os registros de desembarque muitas vezes erravam o sexo das crianças ao se registrar. Domenico então, era Domenica, que em Português se converteu em Domingas.

Muitos indícios levam a crer se tratar da mais nova irmã do nonno Lino: são compatíveis a idade, o nome dos pais (registrados como Pietro Paulo e Rosa Paulo - ela era apenas meia irmã do nonno, filha do segundo casamento de meu trisavô com Rosa Taurico) e o local de seu nascimento (grafado pelo padre como Cestina de Livença, e que acredito ser Santo Stino di Livenza) em Venezia.


Um detalhe muito interessante, muito mesmo: o pai da noiva (Pietro) já era falecido em 1893. Isso quer dizer que o pai do nonno faleceu entre 1886 e 1893 ao menos, muito pouco tempo.

Boa descoberta, não?

domingo, 5 de maio de 2013

O Padrinho de Casamento do Nonno Lino

A amizade também pode ficar registrada também em documentos. Um nome que muito me intrigava era o nome de um dos padrinhos do casamento religioso do nonno Lino Polo. No casamento de Cravinhos, cita "Silvestre Monesin" como padrinho. Eu nunca havia registrado esse sobrenome antes, e acredito ter encontrado hoje seu casamento.

Silvestre Molesin, casou em 10/10/1892 com então 19 anos. A esposa era Herminia Gasparetto. O charme do registro era a naturalidade de Silvestre: foi registrada pelo padre como "Sestino de Livença", Veneza. Provavelmente seria Santo Stino de Livenza. Ele então teria 3 anos a mais de idade que o nonno e seriam conterrâneos. Uma amizade que ultrapassou o Atlantico e que ficou na Fazenda Guatapará, com certeza.



sexta-feira, 3 de maio de 2013

Fotos antigas sobre os imigrantes em Guatapará

Olá a todos.

Descobri no site da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto uma publicação muito interessante: "Italianos em Ribeirão Preto", da Pesquisadora Liamar Izida Turon (ISBN 978-85-62852-07-7). Uma publicação maravilhosa, que contém informações muito interessantes sobre os fratelli que chegaram a minha cidade.

Mas do conteúdo, existem 2 fotos muito importantes e acredito serem uma das mais antigas da Fazenda Guatapará, com foco nos imigrantes italianos. A primeira é (segundo referência da publicação) de 1887 e a segunda de 1889, ano que com certeza familiares meus já viviam na fazenda:



A segunda foto precisei copiar um pedaço que estava em outra página, não ficou lá tão bom. Algumas coisas dessas fotos são muito curiosas:

  • A grande maioria dos homens usa chapéu
  • Os vestidos das mulheres com mangas compridas
  • No fundo das fotos é possivel perceber com algúm esforço matas, o que foram derrubadas pelos mesmos italianos para a plantação do café
  • A diversidade dentro dos próprios migrantes. Há pessoas loiras e morenas. Na foto de baixo parece haver um mulato(a). Acredito ser um resquício dos primeiros trabalhadores "importados" da Bahia, estratégia que se mostrou infrutífera segundo outros autores.
  • É percebível o estado precário da comunidade na época. O estado da via e das construções se mostra muito precária, muito mesmo

Segue o link da maravilhosa publicação: www.ribeiraopreto.sp.gov.br/scultura/italianos.pdf

Fotos com mais de 120 anos. Maravilhosas, não?