sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Uma verdadeira sacanagem com as putas (em outro sentido, claro)

Dia internacional das mulheres. Todo mundo dá abraço na esposa, na mãe, na irmã, na colega de trabalho, na domestica, enfim, em todo mundo. Mas acho que ninguém se lembra das putas, das meretrizes. E acho isso sacanagem, no sentido mais purista da palavra.

A cultura de Ribeirão deve muito às putas: como ilustrado na carta de Monteiro Lobato neste blog, assim como outras publicações constatamos à Belle Époque caipira. As nativas não eram tão atrativas. Importavam-se as Francesas com uma ligeira condição: como Ribeirão era na época o Fim do Mundo, queriam ao menos parte do luxo que encontravam na cidade Luz. 

Assim, para agrado de suas concubinas, os barões do café trouxeram os mascates árabes e suas sedas, a primeira exibição de cinema no estado de São Paulo parece ter sido aqui. Importávamos champagne diretamente da França.


Corista do Cassino Antarctica, 1927 (Fotografo: Salin Aissum)

O grande cafetão, ops, quer dizer, o empresário do deste tipo de diversão na pequena Paris caipira era o Francês Francisco Cassoulet, que administrou cassinos como o Eldorado e o Artarctica, que ficava na esquina das ruas Amador Bueno e Américo Brasiliense. A coisa fica mais interessante ainda quando pensamos que essa região é da Igreja. Ou seja, pagando o laudêmio, até o puteiro funcionava:



A foto de Fransciso Cassoulet, do livro “História de Ribeirão Preto” vol.1 de Rubem Cione:



O grande poder aquisitivo dos coronéis do café fez com que Ribeirão Preto se desenvolvesse a ponto de ser comparada a grandes metrópoles da época, principalmente Paris, cidade que serviu como modelo de modernidade, suntuosidade e beleza. Imitando sua arquitetura e hábitos sociais, surgiram vários teatros e sociedades que promoviam os eventos e entretenimentos sociais, como exemplo: Teatro Eldorado, Teatro High-Life, Bijou Theatre, Paris Theatre, Sociedade Recreativa de Esportes, Sociedade Dante Alighieri, Sociedade Legião Brasileira de Assistência, União Geral dos Trabalhadores, Salão Auxiliadora e Sociedade de Socorros Mútuos.

Um dos vários estudos acadêmicos sobre a atuação de François Cassoulet é o de Benedita Luiza da Silva (2000): O Rei da Noite no Eldorado Paulista: François Cassoulet e os entretenimentos noturnos em Ribeirão Preto (1880-1930), que aborda a questão do processo de desenvolvimento da empresa de entretenimentos de Ribeirão Preto comparada a outros municípios do interior do estado de São Paulo como Campinas, Franca e Batatais. Segundo a autora, estas cidades com as mesmas condições materiais, como a existência de ricos produtores de café e da ferrovia Mogiana, não tiveram um desenvolvimento crescente comparável ao de Ribeirão Preto. (cópiado de http://arquivohistorico.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html)

Ainda sobre as mulheres de RIbeirão no fim do século XVII e início do XIX, segundo publicação no arquivo histórico de São Paulo (http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao45/materia03/):


Theatros etc... Eldorado

Foi esplendida, magnifica mesmo a festa que o sr. Francisco Cassoulet nos roporcionou na noite de antehontem no seu elegante theatrinho da rua S. Sebastião. 
Ricamente  engalanado, se achava interna e externamente aquelle edificio onde centenas de pessoas apreciavam a largas golles o especial "chopp" offerecido pelo Cassoulet.

O espetaculo foi o que de melhor se poderia desejar, tal a correção dos artistas que,  renovaram as bellas "toalettes" e primaram no desempenho dos seus papeis.
Duvernot veio mostrar aos "habituaes" que tinha o dever de tomar parte directa, cantando admiravelmente o seu "Ninon"...
Los Corona, incpichensíveis, elegantes e sympathicos nos deliciaram gostosamente nos seus duettos de fina escolha. Os demais artistas, quase disciplinados soldados, venceram o combate da noite, merecendo applausos.
Cumpre-nos e o fazemos com justiça aqui, salientando os trabalhos de Rina Zambelli, a quem coube as honras da noite.
Indubtavelmente fez supplantar a tudo aquillo que haver pode de bom, de bello, atrahente, fascinante e encantador.
Rina ZAmbelli mostrou-se como sempre irreprehensível.
Cantou, porém com tão elevado gosto, com tanta harmonia e sedução que a enorme massa de seus admiradores fizeram-na voltar ao palco cinco vezes, terminando com a "tosca".
O sr. Cassoulet mais uma vez triumphou, amenisando-nos com uma belíssima noite.
"Chopps" e charutos foram distribuídos gratuitamente e as 11 horas fomos distinguidos com o especial "champagne" que o Cassoulet offereceu a imprensa do Ribeirão Preto e a policia alli representada.
Agradecendo ao Cassoulet as finezas que nos dispensou, fazemos votos para a prosperidade de seu estabelecimento e damos-lhe os nossos parabéns. (Sexta-feira, 11 de Outubro de 1907)

Ou seja, reconheçamos o valor de nossas putas no passado, em especial para nossa cultura, e até mesmo os ares franceses que ainda sopram por aqui (e que trouxeram a seleção da França) Esquecer delas, seria uma grande sacanagem...


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