quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

As fotos ficaram, mas quem são as pessoas?

As fotos são muito importantes, curiosas, uma espécie de documento vivo. Principalmente numa época em que a maldita geração das câmeras digitais chegou ao poderio dos infames chatolescentes (e adultos que cresceram apenas corporeamente), que fazem milhões de caras e bocas numa sequencia imbecil e sem qualquer conteúdo, para publicá-las depois nas famigeradas redes sociais a qual aprendi a não depender e não usar.

Antigamente uma foto representava muito mais do que hoje. Fosse pelo momento, pelo custo ou até mesmo pela oportunidade, se tonavam especiais. O problema é que essas pessoas se foram, as fotos permaneceram e ninguém sabe me falar quem são. E você, meu parente que lê o blog, imagina quem sejam? Ajude a resgatar nossa história, escreva para mim: fernando.cesar.camilo@gmail.com 

1 - Essa foi da visita da parte da família que morava em Guaranésia ao pessoal em Pradópolis. Algumas pessoas são conhecidas, como a Tia Amélia e o Tio Tonico. Com a mão no rosto parece ser Archimedes Polito. E os demais, quem eram???

 

2 - Essa é um  dos grandes mistérios da coleção que consegui. Há nomes: Nico, Alvaro, Aida, Alcir, Amilcar, Iola? e Hyppolito. Quem seriam eles?


3 - Essa foto é dos Frigeri, além de minha trisavó Maria Delphina Junqueira, ao que parece do lado de meus bisavós Italianos.


4- Essa foto é muito bonita. As pessoas estão bem vestidas. Parecem ser da família Polo também. Será?


5 - Essa é minha favorita. Parece ser um momento muito feliz. 


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A segunda guerra e detalhes históricos da família

Descobri que algumas cidades da comuna de Padova a qual minha família possui origem na Itália (os Zuanon principalmente), possuem ordens de reconhecimento sobre sua atuação na segunda guerra mundial e a luta contra os nazistas:



"Data del conferimento: 21/04/2005

motivazione:
Piccolo centro del padovano, durante le tragiche giornate della Guerra di Liberazione, subì una delle più feroci rappresaglie da parte delle truppe naziste, che trucidarono brutalmente ventotto suoi concittadini tra cui alcuni ragazzi ed il parroco. Ammirevole esempio di coraggio, di spirito di libertà e di amor patrio. 27 aprile 1945 - Santa Giustina in Colle (PD)"


Outra coisa muito interessante são os vários registros da família Antonelli (mesmo sobrenome da minha trisavó Enrichetta) sobre a edificação de túmulos históricos na Igreja local de San Martino di Lupari após o ano de 1717, no blog de Paolo Miotto:


Segundo tal levantamento histórico, há registros de sepultamento deste sobrenome no local de um religioso, Franciscus Antonellus em 1649:


7) Notizie certe si hanno riguardo all’epigrafe che recitava come segue: “Reverendus Franciscus Antonellus hunc tum.sibi, Fratri suo, suoq: patruo, cum eorum success. Fratrib. quoque et sorarib. Oratorii fieri curavit. Anno 1649″.
Questo prelato, nato nel 1621 da Giacomo Antonello e Giacomina, apparteneva al ramo degli Antonello detti Crida e ad una delle famiglie più in vista del paese. Nel 1647 l’arciprete Giovanni Filippi riferiva in un processo patrimoniale in corso a Treviso che i membri di questa famiglia “hanno tanti beni del Proprio, che haverebbero almeno ducati cento e venti d’entrata all’anno libera”.
Francesco moriva nel 1698, a settantasette anni, contrariamente agli ottanta che gli vengono affibbiati nel necrologico, e al suo funerale parteciparono ben dodici sacerdoti della parrocchia “e fu posto il suo cadavere sive Corpo sull’Arca della sua degna casa in q.sta Chiesa”.




Uma assinatura muito especial

Quatro de Outubro de 1875, na cidade de San Martino Di Lupari (Padova) ocorreu o casamento de meus trisavós Angelo Zuanon e Enrichetta Antonelli. Pais de minha bisavó Giulia, num casamento aparentemente normal. Mas ele tem um detalhe (e que detalhe)....

A assinatura dela. Numa época que as mulheres não tinham lá seus dotes intelectuais estimulados, uma mulher assinando um documento já seria relativamente interessante, mas a beleza da caligrafia dela me chamou a atenção:


Bonito não?

O Club Atlético Guatapará

Eu não sei exatamente em que data o prédio do Clube da Fazenda Guatapará foi erguido. Imagino que há muito tempo, pois o prédio ainda possuía a grafia à moda inglesa: "Club", como nos clubes mais antigos de futebol.

Além do complexo esportivo, o clube era o centro da vida social da fazenda, com seus diversos bailes e encontros pós futebol. Meu avô Antonio, pai de meu  pai trabalhava no bar deste clube, onde ele sempre me entregava doces quando visitávamos suas dependências:


E para variar, mais uma foto triste da Fazenda: O clube já abandonado, com algumas árvores derrubadas em sua volta para dar lugar à cana. A maldita cana que é tida como o ouro verde de nossa região. Penso eu que Marketing é coisa do diabo, como diriam os devotos mais fervorosos: como algo tão destrutivo pode ser "ouro"?



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Os irmãos do nonno Lino - e eram muitos, para nossa surpresa

Uma salada. Depois de tanto pesquisar, descobri que a família de meu bisavô Lino era realmente muito diferente. Vários casamentos de seus pais contribuíram para isso.

Depois de tantos dados podemos fazer a seguinte relação de filhos de meus trisavós Antonia Bortolotto e de Pietro Polo:


  • Lino, nascido em 24/03/1879: o caçula e único filho comprovado do casal
  • Giovanni (João) Polito: nascido em 16/03/1869. O único irmão que a família relatou fielmente.
  • Stella: nascida provavelmente em 1870, veio no desembarque. Aparenta ser filha apenas de Pietro
  • Domenico: nascido provavelmente em 1876, veio no desembarque. Aparenta ser filho apenas de Pietro
  • Catterina filha de Giovanni e Antonia Bortolotto, n. janeiro de 1862, nascida em San Stino. Parece ter ficado na Italia
  • Maria filha de  Giovanni e Antonia Bortolotto, n. outubro 1866, nascida em San Stino. Parece ter ficado na Italia


finalmente....

  • Giovanni Battista Polo, nascido em 19/06/1871. Sim, descobri mais um irmão!!!!

Essa descoberta ocorreu na seguinte forma: o segundo casamento de Pietro Polo, foi lido inicialmente como sendo com Rosa Fannio. Mas lendo o registro mais de perto, reparei que a primeira letra não tem o traço que geralmente corta o F maiúsculo  Ou seja, parecia muito mais Rosa "Taurico" que Fannio:



E pesquisando no registro do Archivio di Stato di Venezia, nas liste di leva (embarque) encontramos:

Polo Giovanni Battista
di professione: Villico
figlio di Polo Pietro di professione Villico e Taurico Rosa
Nato il 19/06/1871
Luogo di nascita: Caorle (Venezia)
Distretto Mandamento: Portogruaro
Luogo di residenza: Caorle (Venezia)
Distretto Mandamento: Portogruaro
Numero di estrazione: 506
Lista di leva del comune di: Caorle
Numero del registro: 153
Numero d'ordine: 32
Segnatura: Ufficio di leva di Venezia, Liste di leva



Esse registro é muito relacionado ao relatado que meu primo de Pradópolis/SP, Mario Paulo: que segundo seu pai, um irmão mais velho do nonno teria vindo da Itália após a morte de Pietro, desertando do serviço militar para auxiliar o sustento da família. Isso também lança uma informação interessante, que o pai de Lino, Pietro, morreu não muito  tempo após ao chegar ao Brasil.


Acredito que mais um capítulo dessa longa história foi revelado.







terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Os Polito na Itália

Boas novas, graças ao Ugo que tanto nos ajuda. Ele pesquisou nos chamados Anagrafi della parrocchia di San Stefano di Livenza, uma espécie de livro censitário da paróquia de Santo Stino. Lá encontrou dois livros, um  estimado do ano de 1867 e outro de data ignorada:

primeiro livro, na casa indicada com o n. cívico 20 moravam as seguentes pessoas:


1) Polito Antonio furono Vincenzo e Catterina, n. 22 giugno 1806, vedovo di Giovanna (?), n. a San Stino
2) Polito Vincenzo di Antonio e fu Giovanna (Sonno?), n. 16 settembre 1837, n. a San Stino
3) Crosariol Adelaide di Angelo, n.  settembre 184(0?), n. Caorle
4) Polito Giovanna di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. ottobre 1865, a San Stino
5) Luigi Vincenzo di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. settembre 1867, a San Stino
6) Anna di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. 24 agosto 1869, a San Stino
7) Angelo di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. 11 aprile 1873, a San Stino
8) Bortolotto Antonia di Luigi, n. agosto 1839, vedova di Giovanni Polito, n. Caorle
9) Polito Catterina fu Giovanni e Antonia Bortolotto, n. gennaio 1862, n. a San Stino
10) Polito Maria fu Giovanni e Antonia Bortolotto, n. ottobre 1866, n. a San Stino
11) Polito Giovanni fu Giovanni e Antonia Bortolotto, n. 16 marzo 1869, n. a San Stino

segundo livro na casa indicada com o n. cívico 20 moravam as seguentes pessoas:


1) Polito Antonio furono Vincenzo e Catterina, n. 22 giugno 1806, vedovo di Giovanna (?), n. a San Stino
2) Girotto Teresa fu Pietro e fu Antonia Martin, n. 16 settembre 1816, m. 22 maggio 1868
3) Polito Giovanni di Antonio e fu Anna Careghetta, n. 14 agosto 18282) 
4)Polito Vincenzo di Antonio e fu Giovanna (Sonno?), n. 16 settembre 1837, n. a San Stino
5) Bortolotto Antonia di Luigi, n. agosto 1839, vedova di Giovanni Polito, n. Caorle
6) Crosariol Adelaide di Angelo, n.  settembre 1840, moglie di Vincenzo, n. Caorle
7) Polito Catterina fu Giovanni e Antonia Bortolotto, n. gennaio 1862, n. a San Stino
8) Polito Maria fu Giovanni e Antonia Bortolotto, n. ottobre 1866, n. a San Stino
9) Polito Giovanni fu Giovanni e Antonia Bortolotto, n. 16 marzo 1869, n. a San Stino
10) Polito Giovanna di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. ottobre 1865, a San Stino
11) Luigi Vincenzo di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. settembre 1867, a San Stino
12) Anna di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. 24 agosto 1869, a San Stino
13) Angelo di Vincenzo e Crosariol Adelaide, n. 11 aprile 1873, a San Stino
14) Tomasella Antonio Costantino fu Valentino e Ros Angela, n. 24 settembre 1842, n. a Fratta

Podemos então chegar as seguintes conclusões:

  • Os Polito eram de Santo Stino. O Pai do nonno que se mudou para lá
  • Em 1867 minha trisavó já era viúva de seu primeiro marido
  • O meu bisavô Lino tinha ao menos mais 2 meias-irmãs Polito (Catterina e Maria)
  • A data de nascimento correta de Giovanni Polito (o que foi pra Guaranésia)
  • O ano de nascimento de Stella e Domenico não batem com o inventário. Eles seriam então irmãos do nonno pelo lado do Pai (Polo), ao invés da mãe como supunha
  • As duas irmãs ficaram na Italia provavelmente

Seguem fotos da Igreja de Santo Stino enviadas juntas com as informações, dedicadas à Santo Stefano (Estevão), representado no mosaico:






sábado, 9 de fevereiro de 2013

O mistério finalmente resolvido - a história do trisavô Pietro Polo quase desvendada

Meu trisavô Pietro Polo é um dos meus personagens preferidos nessa arqueologia familiar que a tanto tempo faço. Ele, juntamente com minha trisavó Antonia Bortolotto tem uma história confusa, acredito que muito distorcida pelo tempo.

Um dos grandes mistérios envolvendo eles consiste em sua história familiar. Antonia Bortolotto, se casou com Giovanni Polito provavelmente em 1875. Após ficar viúva, casou-se em 30/06/1886 com Pietro Polo, pai de meu bisavô Lino. Em 1900, na certidão de casamento religioso era viúva e chamava-se Antonia Laura. Seria um erro ou outro casamento? Sabe Deus.

Pietro era especial. Foi provavelmente a inspiração do nome de meu avô Pedro. O local de falecimento ainda é um grande mistério. Considerando que os filhos do primeiro casamento de Antonia eram de pele bem clara, Pietro deveria ser bem moreno como eu, minha mãe, avô e bisavô. Mas finalmente com a ajuda gigantesca de um amigo da lista de descendentes Brava Gente (Ugo Pessinotto), parte deste mistério foi resolvida neste mês.

Havia uma grande dúvida: como já publicado em outro Post, a profissão de Pietro Polo parecia ser "nunzio", no nascimento de Lino, algo que era apenas traduzível como nuncio, padre. Isso incomodava e surpreendia, pois além de algo bem diferente, em outros documentos ele aparecida como vedovo (viúvo) e contadino (agricultor).

Mas, nesses favores que poucas vezes na vida alguém faz pela gente, Ugo visitou a paróquia de Santo Stino e pesquisou nos documentos da Igreja sobre a família. Trascrevo  a mensagem emocionante com os dados que conseguiu extrair das atas da igreja:


"oi Fernando, fui na paroquia de San Stino dia 30. descobri que Lino nasceu num distrito de San Stino, La Salute di Livenza. a familia Polo nao era original de San Stino,, mas de Cava Zuccherina, atual cidade de Jesolo. nao se encontra quase nada sobre a familia Polo no arquivio da paroquia. contudo encontrei nos livros paroquiais o casamento de um Pietro Polo, que poderia ser o pai de Lino, mas precisa verificar algumas coisas... Pietro era nascido em Cava Zuccherina dia 3 agosto 1835, era viuvo de Anna De Bortoli, e no dia 6 novembro 1867 se casou com Rosa Fannio. ele morava quando se casou em La Salute di Livenza. ele era "nonzolo" ou seja sacrestao da igreja. o pai de Pietro se chamava Giovanni Polo.

marquei uma visita na paroquia de La Salute a proxima semana..."


Informações novas e mistério resolvido. Pietro era sim muito ligado a Igreja - era sacristão da paróquia, e seu casamento aos 53 anos com Antonia Bortolotto foi o terceiro de sua vida. Inicialmente casou-se com Anna De Bortoli, enviuvou-se e posteriormente se casou em segundas núpcias com Rosa Fannio em 03/11/1867, enviuvou-se novamente e finalmente em 1886 casou com minha trisavó.


Parte do mistério resolvido, novas informações. E nosso muito obrigado ao Ugo, que resolveu um mistério familiar de anos e anos...

Abaixo, a foto da Igreja.








sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O desembarque dos Zuanon

Os Zuanon vieram pouco depois dos Polo. A impressão é que foram bem mais organizados desde o início que os demais familiares pelos documentos que encontrei. O problema é que os registradores da hospedaria dos migrantes de São Paulo erraram feio o sobrenome: de Zuanon, escreveram Zaccanon. Além disso, converteram aos duas meninas da Família em meninos.



No Archivio storico del Distretto Militare di Padova (Leva Militare delle province di Padova e Rovigo 1846 - 1902) existe apenas a menção dos homens no embarque. Eles desembarcaram em Santos no dia 03/08/1892, e viajaram em um navio identificado como Andrea Doria. Não encontrei registros desse navio (existe um outro, construído apenas em 1951). Outro detalhe interessante é o primeiro local que se fixaram no Brasil: na cidade de Leme/SP, na fazenda onde o dono identificado permitiu descobrir uma característica muito interessante:


Essa fazenda existe até hoje! E é muito conhecida: trata-se da Fazenda Cresciumal, onde ainda há um famoso desfile de carnaval aos moldes Italo-Nordestino, com máscaras como se faz em Venezia:



Segue abaixo um texto que encontrei num artigo que descreve tal fazenda no site http://www.culturaleme.com.br:


A fazenda Cresciumal, historicamente, foi a primeira região de “Leme” a ser habitada e desbravada economicamente, segundo documentos pesquisados eram moradores da referida fazenda o Sr. Aleixo Antonio Bueno de Morais (13.10.1822), José Brás Nicolau (09.04.1824) e Roque do Prado Bueno (09-04-1824). O Barão de Souza Queiroz veio adquiri-la em 07.11.1840. Vale lembrar que o povoamento da cidade de Leme só teve início em 1877 com a chegada da estrada de ferro. A fazenda tinha aproximadamente 2.200 alqueires de terras, com um perímetro de 36 km. O seu nome vem de uma espécie de bambu chamada criciúma, encontrada na região. Em 1847 o Barão de Souza Queiroz, seguindo o exemplo do sogro (Nicolau Vergueiro) começou a substituir a mão de obra escrava pela mão de obra livre trazendo imigrantes europeus para suas fazendas. O Barão de Souza Queiroz adquiriu 11 fazendas através de pedido de sesmarias ou compra de glebas em três delas foram fundadas colônias para trabalhadores imigrantes e brasileiros, dentre elas a Fazenda Cresciumal. Os imigrantes alemães foram os pioneiros na região, chegaram mais ou menos vinte e dois anos antes da formação do povoamento de Leme, contratados para o trabalho na lavoura cafeeira. Mais tarde, o governo brasileiro promoveu a vinda de italianos que se fixaram na colônia da fazenda, onde alguns de seus descendentes ali viveram por muito tempo. O Barão de Souza Queiroz trouxe para o Brasil mais de 2000 imigrantes europeus (alemães, italianos e portugueses) atingindo grande prosperidade em suas colônias. Em 1891, com a morte do Barão, seus filhos Dr. José de Souza Queiroz (administrador da fazenda) e Dr. Augusto de Souza Queiroz, receberam a Cresciumal como herança. Após algum tempo, Dr. Augusto ficou com uma fazenda vizinha chamada Ibicatú. Ainda em vida, o Dr. José doou a Cresciumal para seus filhos José Neto, Gisela e Raul, com o passar do tempo seu filho José Neto comprou a parte total de sua irmã e uma parte da propriedade de Raul cuja outra parte fora loteada, e vendida para antigos colonos da Cresciumal formando o núcleo Cresciumal. Hoje a Fazenda Cresciumal tem 170 anos e é a única fazenda fundada pelo Barão que ainda pertence à família.




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Facciamo L'América - O desembarque dos Polo

Imagine sua cidade. Sua casa. Seus amigos, vizinhos e todo ambiente em que vive: a temperatura, os alimentos mais comuns, a língua, a vida em si. Agora pense bem: por pior que seja, a torne mais ruim ainda,   imagine sua vida tão ruim que pegar um navio cheio de gente e desembarcar numa terra completamente diferente da sua ganhasse contornos de esperança.

Imagine logo após o desembarque, suas poucas coisas servirem de moeda de troca para os primeiros instantes na nova terra. Boa parte da família correrá risco de morrer de varíola, tifo, lepra ou alguma doença tropical.

Se tudo corresse bem, trabalharia como um burro de carga, para garantir a subsistência da sua família que não para de crescer. Esse era o panorama da maioria dos Italianos aqui no início do século XX. Com os Polo e meus demais Italianos com certeza não foi diferente.

Mesmo morando na região da laguna de Venezia, os Polo saíram por Gênova. Isso quer dizer que a jornada começou no outro lado da Itália, onde existia o principal porto do norte Italiano. Juntando os cacos, consegui refazer boa parte do trajeto dessa epopéia. 

Os registros começaram a clarear no Archivio di Stato di Venezia onde é facilmente identificado na seção das liste di leva:

Polo Lino
di professione: Contadino
figlio di Polo Pietro di professione Contadino e Bortolotto Antonia
Nato il 24/03/1879
Luogo di nascita: San Stino di Livenza (Venezia)
Distretto Mandamento: Portogruaro
Segnalazioni dell'emigrazione: America, 3/4/1887
Numero di estrazione: 225
Lista di leva del comune di: San Stino di Livenza
Numero del registro: 177
Numero d'ordine: 35
Segnatura: Ufficio di leva di Venezia, Liste di leva

Esse registro tem um apontamento quase que único: a data de imigração. Podemos afirmar com certeza que eles passaram por Portugruaro (cidade levemente maior que Santo Stino) para fazer parte de mais um embarque.

Descobri os demais dados no Museu do Imigrante de São Paulo, com um pouco de dificuldade pelo sobrenome errado: Eles desembarcaram no porto de Santos em 06/05/1887. Ficaram 33 dias no mar, em uma rota que provavelmente passava pela França, Montevidéo e pela Argentina. Escolheram descer aqui, sabe Deus a razão.

No já citado Museu do Imigrante, aparece a outra ponta da história: no índice de famílias o nome do meu trisavô, Pollo Pietro. O curioso é que existia um Sebastiano Polito no mesmo navio. Seria um cunhado do primeiro casamento de minha trisavó Antonia Bortolotto?




E seguindo o livro 5 do arquivo, no final da página 198 está documentada mais detalhadamente a outra ponta da história: além do registro do desembarque de toda a família, o indicativo que receberam a ajuda financeira de 375 contos de réis e também registro de onde tudo começou aqui: o primeiro lugar de estada no Brasil, a cidade de Amparo (abreviado na palavra "Amp.").









Estou vasculhando a região de Amparo, pois não sei se Pietro Polo faleceu lá. É uma hipótese forte, pois em 1900 ele não era mais vivo, de acordo com o registro no casamento do Nonno Lino. Mas de uma forma ou de outra, esse foi o início do tão famoso "façamos a América", ao menos na Italia pobre.

Depois, foi só pegar a mogiana e se dirigir para Ribeirão Preto....

O navio


O navio que viajaram foi o La France. Observem uma foto que consegui. Parece muito sombrio.


Segundo o site "Novo Milenio", o La France possuía de comprimento, possuiria 130 metros, de tonelagem se aproximaria das 4 mil tab, de velocidade viajava a quase 12 nós (22 quilômetros) e de capacidade levaria mais de 1.000 passageiros. Nada de similar existia na época, na linha sul-americana.

Seu desenho também seria revolucionário: afilado, com amplo castelo central e duas curtas chaminés inclinadas, popa com superestrutura e proa (frente) inclinada, suas linhas eram tão de vanguarda que o desenho de prancha do La France seria ainda válido 20 anos mais tarde!  
La France levava ainda outro superlativo ligado ao seu nome: no momento de seu lançamento ao mar em 1871, era o segundo maior navio mercante jamais construído pelo homem, só perdendo para o gigante de Isambard Brunel, o Great Eastern.

Em julho de 1871, realiza sua viagem inaugural entre Marselha e Buenos Aires, batendo o recorde de travessia oceânica, com uma média de velocidade superior a 12 nós. Durante dez anos a partir dessa data, o La France não teve rivais na rota entre o Mediterrâneo e a Bacia do Prata, só sendo superado em velocidade e tonelagem com o lançamento, pela própria SGTM, do par Navarre e Bearn em 1881 e 1882, respectivamente.

Em termos de comprimento, foi necessário esperar até 1890 para se ver um vapor maior do que o La France na ligação Mediterrâneo-Brasil-Prata. O Alfonso XII, da Companhia Transatlântica, media 133 metros.

No decorrer de toda a década de 80 do século passado (N.E.: século XIX, portanto), a SGTM sustentou uma enorme pressão, provocada pela áspera concorrência oferecida pelas armadoras italianas e alemãs na rota entre o Mediterrâneo e a América do Sul.

Foi no intuito de se antepor a essa mesma concorrência que a empresa que o gerenciava (SGTM)  decidiu-se pela construção do novo par Navarre e Bearn, dois navios gêmeos com tonelagem superior a 4 mil tab e velocidade de cruzeiro de 14 nós (26 quilômetros horários).

Em 1885, o La France foi cedido por alguns meses ao governo da França para o transporte de tropas até a Indochina, durante o conflito sino-francês. No dia 3 de setembro do mesmo ano, o vapor foi vítima de um curioso episódio, ao penetrar, em viagem regular, em porto da Bahia. Um navio-aviso da marinha Imperial brasileira, Trariapé, despeja uma salva de canhão sobre o La France e a explosão de um obus a bordo deste causa o falecimento de um passageiro italiano.

Após a renúncia, por parte da China, à soberania dos territórios da Indochina em abril de 1885, a França passou a exercer total domínio terrestre e marítimo sobre essa região do Sudeste Asiático. Tal fato permitiu o estabelecimento de novos interesses comerciais e intercâmbio de mercadorias de alto valor, como seda e pérolas.


O aumento desse fluxo comercial atirou várias armadoras hexagonais para o Extremo Oriente e a SGTM não ficou à margem, deslocando o La France para repetidas viagens até Tonkin, no decorrer de 1886.

Foi durante uma escala de rotina no Porto de Las Palmas (Ilhas Canárias, no Oceano Atlântico) que a tragédia da colisão dos navios Sud America e do La France ocorreu. O episódio que provocaria a perda do Sud America e de 52 pessoas que se encontravam a bordo. O La France foi vendido para demolição no final de 1895, sendo desmontado, no ano seguinte, no Porto de Marselha.







domingo, 3 de fevereiro de 2013

O triste fim de Amélia Polo

Pesquisar sua família é algo interessante. A genealogia, saber de onde você veio passa pelo fator cultural e até mesmo saúde, pois se pode descobrir tendências genéticas, etc, etc, etc. Papo de buteco então, dá de monte....

Mas isso também tem um lado sombrio: revolver o passado acaba trazendo coisas que não se sabia, e as vezes melhor que se não soubesse. As vezes, o passado retorna de forma um tanto quanto melancólica, triste, dolorosa. E conversando com minha mãe isso hoje aconteceu.

Eu tive uma tia avó chamada Amélia, irmã de meu avô Pedro. Soube da história dela hoje, e pelo menos hoje, rezarei por ela. 



É duro saber que o destino as vezes impossibilita a felicidade. Ou ao menos o casamento de fatores como destino, sociedade e época em que se vive.

Amélia era paralítica. Minha mãe não soube precisar se era paralítica de nascimento ou se teve paralisia infantil, ou algúm tipo de acidente ao longo da vida. Imagino que deva ser de nascimento, pois soube através do primo Orlando que o único filho natimorto de minha bisavó era gêmeo dela.

E em uma época em que o casamento era visto de uma forma diferente de hoje, e as contemporâneas e iniciantes / afamadas inclusão e acessibilidade eram inexistentes, ser paralítica era uma espécie de condenação, principalmente sentimental. Ainda mais para uma mulher.

O que mais me chamou atenção foi o último desejo dessa minha tia. Perto da morte, fez um pedido inusitado à sua cunhada e minha avó Iolanda: Pediu para que minha avó confeccionasse um vestido de noiva.  Seu último desejo era ser sepultada como uma noiva.

Seria isso um grande amor que nunca pode ser realizado ou ao menos expressado? Sabem disso hoje apenas Deus e ela onde estiver.

E assim foi feito. Morreu Amélia. E se foi noiva. Acredito que provavelmente a única mulher que merecera realmente portar o branco da pureza que o vestido de noiva tenta representar. Não por pudor, nem que essa pureza seja realmente benigna ao meu ver - mas existente apenas por força de uma época e condição social que a determinou de forma tão dolorosa, triste e melancólica.